Associação de Estudos Huna

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O Grande Gatsby

Esta pequena tradução do início do capítulo I, para nós da Huna, serve para percebermos como um escritor famoso (de grau biométrico provavelmente elevado) conseguiu analisar e constatar qualidades a respeito do intelecto e da personalidade humana, sem julgamento e sem se ligar, assumindo o problema analisado.

Ceres Eliza da Fonseca Rosas

CAPÍTULO I do livro “The Great Gatsby”, de F. Scott Fitzgerald.

Nos primeiros e mais vulneráveis anos de minha juventude meu pai deu-me uma recomendação que tem estado em minha mente desde então.

“Sempre que você se sentir com vontade de criticar alguém”, disse-me ele, “apenas lembre-se que a maioria das pessoas do mundo não terão tido as vantagens que você teve.”

Ele não me disse mais nada, mas nós sempre temos estado extraordinariamente comunicativos de uma maneira reservada e eu entendi que ele queria dizer muito mais que isso. Consequentemente, tenho me refreado de todos julgamentos, um hábito que tem aberto para mim muitas qualidades curiosas e também me tornou vítima de experimentar não poucos aborrecimentos. O intelecto mal formado é rápido em detectar e se ligar a esta qualidade quando ela aparece em uma pessoa normal, e assim aconteceu que quando eu estava no colégio fui injustamente acusado de ser um político perspicaz, porque eu era o confidente de rudes e estranhos homens. A maior parte das confidências eram não-procuradas – frequentemente eu fingia sono, preocupação, ou uma hostil leviandade quando percebia por um sinal inequívoco de que uma revelação íntima estava tremulando no horizonte; porque as revelações íntimas dos jovens, ou pelo menos nos termos nas quais as expressam, eram geralmente plagiarizadas e reticentes por evidente supressão. Reprimir-se de julgar é um assunto de infinita expectação. Eu estou ainda um pouco receoso de falhar em alguma coisa se esquecer isso, como meu pai orgulhosamente sugeriu, e eu orgulhosamente repito, que um senso de decência fundamental é desigualmente distribuída ao nascimento.

E depois de ostentar esse modo de minha tolerância, cheguei a admitir que isto tinha um limite. A conduta pode ser provida na dura rocha ou nos pântanos úmidos, mas depois de certo ponto, eu não me importo como ela é alcançada. Quando no último outono eu voltei do Leste, senti que queria o mundo em uniformidade e um tipo de atenção moral para sempre; não desejava mais as excursões tumultuosas com privilegiados gozos passageiros dentro do coração humano. Somente Gatsby, o homem que deu seu nome para este livro, estava eximido de minhas reações – Gatsby que representou tudo para o qual tenho um franco desdém. Se a personalidade é uma série inquebrantável de ditosas ações, então há alguma coisa esplêndida sobre ele, alguma aumentada sensibilidade para as promessas da vida, como se ele fosse refratário a uma dessas intrincadas máquinas que registram terremotos a dez mil milhas de distância. Esta conformidade não tem nada a ver com essa frouxa impressionabilidade que é dignificada sob o nome de “temperamento criativo” – era uma extraordinária dádiva para a esperança, uma disposição romântica tal como eu jamais havia achado em qualquer outra pessoa e que não é provável que volte achar novamente. Não – Gatsby continuou impassível até o fim; e é o que devorou Gatsby, aquela poeira flutuando no despontar de seus sonhos, que temporariamente liquidou meu interessa nas abortivas tristezas e sucinta relação humana.

(1925 – primeira edição do livro “The Great Gatsby”, de F. Scott Fitzgerald)

(1974 – houve um filme da Paramount Pictures apresentado por David Merrick, com Robert Redford e Mia Farrow, dirigido por Jack Clayton e distribuido por Cinema International Corporation)

(2013 – filme de Baz Luhrmann estrelando Leonardo DiCaprio, Tobey Maguire e Carey Mulligan)

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