por Serge Kahili King
do texto original “The Age of Electronic Shamanism”
Tradução de Luiz Carlos Jacobucci
Uma revolução muito sutil, silenciosa e penetrante está em andamento no mundo inteiro neste momento. Está acontecendo nos lares, nas escolas e nos escritórios com a ajuda dos computadores, dos jogos e de uma variedade de dispositivos eletrônicos.
O que é fabuloso nesta revolução é que a maioria das pessoas envolvidas nem mesmo está ciente dela. São participantes conscientes sem estarem conscientes da participação.
Permita-me ampliar sua consciência nesta revolução, relacionando-a com algumas das práticas do xamanismo, um termo genérico para o uso dos poderes da mente e das forças da natureza para ampliar o conhecimento e influenciar a realidade material. Algumas das coisas que discutirei são praticadas por pessoas que não consideram xamânico aquilo que fazem, mas o uso do xamanismo como base torna a discussão mais simples e clara.
Comecemos pela telepatia, geralmente definida como uma comunicação de mente para mente com alguém ou alguma coisa na ausência de contato físico. Os cientistas modernos gostam de debater sua existência, mas virtualmente qualquer grupo com três ou mais pessoas desejando falar sobre ela terão experiências pessoais telepáticas para compartilhar, seja com uma outra pessoa, um animal ou qualquer outra coisa. Além disso, toda cultura no mundo tem estórias de experiência telepática como parte de sua sabedoria popular. Os cientistas têm a tendência de zombar dessas estórias como sendo casuais, por se basearem em experiências pessoais ao invés de pesquisas, mas uma experiência pessoal com telepatia é tão real quanto uma experiência pessoal com amor e uma pesquisa não a torna mais real.
Assim, observemos a telepatia mais de perto, a experiência de conhecer pensamentos e/ou sentimentos de alguém ou alguma coisa à distância, na ausência de contato físico. Em muitas culturas, xamânicas ou não, isto é feito propositalmente com a utilização de ferramentas físicas como cristais, pêndulos e padrões formados por símbolos de várias espácies como cartas de Tarot, moedas do I Ching ou ossos das juntas de carneiro. Nos tempos atuais a mesma coisa está sendo realizada com o uso do rádio, televisão, computadores e telefones celulares.
Posso ouvir algumas pessoas protestando: “Espere! Isso não é a mesma coisa. Essas coisas são físicas!” E eu respondo, “cristais, pêndulos e padrões simbólicos são físicos, também.” E essas pessoas protestam novamente: “mas as ondas de rádio e televisão, os campos eletromagnéticos e as microondas são físicas também e podem ser medidas.” E eu respondo, “é hora de aprender que essas ondas e campos que vocês acabaram de mencionar são tão físicas quanto as chamadas ondas e campos ‘telepáticos’.”
O fato é que as ondas de rádio e televisão, os campos eletromagnéticos e as microondas não podem ser medidos diretamente. As únicas medidas que podem ser feitas com relação a essas ondas são as medidas dos efeitos físicos que elas produzem nos dispositivos projetados para responder a elas. As próprias ondas e campos são tão não-físicos como qualquer coisa pode ser. Vamos também examinar o que na verdade acontece quando você escuta um programa de rádio, por exemplo. Alguém fala em um microfone. Algo no microfone vibra em resposta ao padrão de onda sonora e essa vibração gera um sinal elétrico não-físico que, de alguma forma, reproduz duplicatas dos padrões originais da voz. Outro equipamento físico processa esse sinal convertendo-o em ondas de rádio não-físicas com determinada frequência medida que, da mesma forma, também reproduz duplicatas dos padrões originais da voz. Estas ondas são transmitidas da estação, aparentemente, uma ondulação tridimensional de 360 graus. A antena de seu rádio, sintonizada nessa frequência específica, converte a onda de rádio em um sinal elétrico que, em seguida, estimula a vibração de algum tipo de membrana que gera as ondas de som que carregam duplicatas dos padrões originais da voz para seus ouvidos. Surpreendente, não é?
O cérebro pode ser considerado um dispositivo orgânico projetado para responder a ondas e campos telepáticos, que incluiriam a percepção consciente de pensamentos e emoções de outras pessoas sem o uso dos olhos, ouvidos, bocas ou gestos. E da mesma forma que um rádio não pode captar uma estação com a qual não esteja sintonizado, um cérebro não capta pensamentos e sentimentos com os quais não esteja sintonizado. Um pensamento ou um sentimento é transmitido em todas as direções a partir de alguém ou de algo, usando um cérebro ou não. Supondo que seu cérebro esteja sintonizado nessa frequência telepática específica, algo em você capta o sinal e o converte em impulsos elétricos reproduzindo certo grau de duplicidade do padrão da fonte original e estes impulsos alcançam, dependendo do conteúdo do padrão, várias partes do seu cérebro onde, novamente, dependendo do conteúdo, você se depara com algum tipo de consciência sensorial, emocional ou cinestésica acompanhada de alterações químicas e físicas mensuráveis em seu corpo. Como a maioria das pessoas não está acostumada a sintonizar seus cérebros a sinais telepáticos, pode haver muita distorção na interpretação final desses sinais. Por essa razão, os dispositivos físicos como cristais, pêndulos e padrões simbólicos podem ser úteis para manter a recepção mais próxima do padrão original, pela conversão do sinal da entrada em um sinal visual e cinestésico na saída. Acredito que ainda temos uma grande distância a percorrer até o desenvolvimento de dispositivos mais precisos para recepção telepática, mas os rádios primitivos também não eram tão bons.
Isto está de acordo com minha tese de que os dispositivos eletrônicos que usamos atualmente para transmitir pensamentos e sentimentos não estão, como alguns pensam, nos afastando do desenvolvimento de nossas capacidades telepáticas naturais, mas, ao contrário, estão servindo para, artificialmente, nos treinar nessas capacidades, especialmente enquanto se tornam menores, mais eficientes e mais precisos. Estão ajudando a criar uma expectativa subconsciente de como é fácil a comunicação com alguém em outro ponto do globo, tanto que cada vez menos palavras são necessárias para comunicar nossos pensamentos e sentimentos. Pense em como um simples emoticon como este “:)” pode fazê-lo se sentir bem e poucas letras como “AOS” (do inglês: “Adult Over Shoulder”) podem, se você for um adolescente, fazer com que você ou seu amigo saibam que um adulto está atrás de seus ombros, observando o que vocês estão fazendo e, portanto, sejam discretos. Além desse efeito, existe o recurso atual de inserções de anúncios-padrão de 5 segundos em publicidade. Com frequência, você ouve que isso é devido à diminuição da capacidade de concentração do público, mas considerando que as pessoas ainda assistem a segmentos muito mais longos na programação normal, na verdade, isso tem aumentado a capacidade das pessoas de absorver mais informações a partir de menos sinais de entrada.
Uma outra técnica eletrônica é o treinamento de pessoas para absorver mais informação do que, de uma só vez, seria uma quantidade de informação excessiva. Estou falando aqui da prática comum de muitos noticiários, em especial aqueles dedicados às notícias financeiras, de apresentar informações múltiplas e simultâneas. A CNBC, por exemplo, mantém uma ou mais pessoas falando ao mesmo tempo que dois letreiros no topo da tela dão os resultados atuais do mercado dos fundos de ações e commodities, enquanto dois letreiros no rodapé da tela – um movendo-se mais rápido que o outro – dão as cotações de vários tipos de ações e outra pequena tela, acima desses dois letreiros, apresenta informações ou notícias que podem estar ou não relacionadas com o que as pessoas estão dizendo. Como nosso cérebro está recebendo uma infinidade de informações muito além daquilo que conscientemente percebemos em condições normais, isto pode estar ajudando a nos preparar para prestar mais atenção a sinais de entrada telepáticos que normalmente estaríamos ignorando.
Até aqui dei ênfase à telepatia, mas, praticamente, todas as capacidades xamânicas estão sendo praticadas hoje em dia por cada vez mais pessoas, sem que elas se dêem conta disso, em especial aqueles milhões que ingressam em mundos virtuais através de uma conexão por computador. Para demonstrar meu ponto, usarei apenas um desses mundos virtuais como exemplo, o “Second Life”. Para os que não estão familiarizados com essa experiência, o procedimento padrão de funcionamento é pela utilização do seu teclado e de um “mouse” para manipular um “avatar,” um personagem digital que o representa em um ambiente virtual tridimensional.
Em uma típica sessão do “Second Life”, aqui estão algumas das capacidades xamânicas com as quais você provavelmente irá entrar em contato:
• Telepatia: isto é feito geralmente pelo envio de uma “mensagem instantânea” para alguém que pode estar em qualquer lugar no mundo real.
• Clarividência: você faz isto com uma “visão de câmera” que permite a você ver coisas nos cantos, fora do campo de visão do seu personagem.
• Levitação: sempre que você desejar, na maioria das posições virtuais, você pode saltar no ar e mesmo flutuar ou voar até um destino de sua escolha.
• Viagem Astral: apenas abra um mapa, escolha uma posição, aperte uma tecla de Teletransporte e “whoosh!” você estará lá mais rapidamente do que um transportador do Star Trek poderia levá-lo.
• Mudança de Forma: conforme desejar, você pode mudar a forma do seu corpo, sua pele, seus olhos e seu cabelo para satisfazer sua própria fantasia. E pode até mesmo se transformar em um animal.
• Materialização: com um feixe de energia projetado pela mão do seu avatar, você pode fazer com que uma grande variedade de formas fundamentais apareça do nada e, a seguir, transformá-las em casas, barcos, aviões, vestimentas, jóias… quase tudo que quiser.
• Cura: este é um dos efeitos mais surpreendentes, porque os resultados produzem mudanças reais em sua mente e seu corpo vivos. Para compreender isto, você tem que aceitar que todos temos uma capacidade subconsciente para imitar o estado ou a ação de qualquer coisa sobre a qual colocamos nossa atenção plena. Uma das maneiras de como esta capacidade é usada na Vida Real é fazendo com que atletas assistam vídeos de especialistas em sua modalidade e depois pratiquem o que assistiram. Os experimentos demonstram que o desempenho dos atletas aumenta significativamente após assistirem o vídeo. Outra maneira usada em muitas áreas da vida real é imaginar, com realismo, o que você quer fazer ou ser, e depois fazer ou praticar essa ação.
De volta ao “Second Life”. Quando você imerge seu avatar em uma banheira quente, seu corpo físico começa a relaxar. Quando seu avatar medita em uma floresta ou em um templo, sua mente e suas emoções reais acalmam-se. Quando seu avatar se coloca em frente a um campo de energia, seu corpo real se sente energizado. Em alguns casos, quando outro avatar usa toques de cura ou aplica massagem em seu avatar, sua dor real pode desaparecer.
Se examinarmos este fenômeno com os conceitos de Rupert Sheldrake, centenas de milhões de pessoas ao redor do planeta estão gerando e mantendo campos mentais e comportamentais de transformação que farão com que, cada vez mais facilmente, cada vez mais pessoas comecem a expressar talentos e habilidades xamânicas que geralmente são associadas a lendas, fantasia ou ficção científica. Os talentos e habilidades são reais, apesar de, até recentemente, terem sido praticados apenas por poucas pessoas. Neste momento, entretanto, milhões e milhões de pessoas estão envolvidos e o treinamento de toda raça humana começou.
Esta revolução acontecerá facilmente? Muito provavelmente não, porque as vidas de muitas pessoas são baseadas no medo. As áreas potenciais de resistência mais comuns são estas:
• Medo de tudo que seja eletrônico ou eletromagnético. Isto é baseado na ignorância de como esses dispositivos funcionam e muitos não querem aprender.
• Medo de que as pessoas se tornem viciadas. Isto é baseado na ignorância sobre o que é o vício. Pessoas com muito baixa auto-estima podem tornar-se viciadas em qualquer coisa que lhes traga certo grau de prazer. Se você afasta uma fonte de prazer delas, elas simplesmente encontrarão outra.
• Medo de que as pessoas se tornem tão dependentes dos dispositivos eletrônicos que perderão suas habilidades naturais. Isto é baseado na ignorância sobre a natureza humana. Seres humanos são criaturas que utilizam ferramentas. Sempre usamos e sempre usaremos ferramentas para realçar nossa criatividade natural.
Acabei de me lembrar de uma estória que me contaram há alguns anos atrás sobre um Australiano branco e um Aborígine que estavam caminhando juntos no interior e se perderam. O Australiano branco disse a seu companheiro, “Oi, porque não utiliza alguns daqueles poderes que você supostamente tem e nos encontra ajuda?”
“Tudo bem,” disse o Aborígine que tirou um telefone celular do bolso traseiro e ligou para alguns parentes.
“Espere um momento,” disse o Australiano branco. “Pensei que vocês podiam se comunicar através de suas mentes!”
“Oh, claro, podemos fazer isso,” disse o Aborígine, “mas isto é muito mais fácil!”