Os sonhos revelam nossos mais profundos mistérios.
O pensamento nativo crê que a alma funciona como uma ponte entre o espírito e o corpo.
A alma transpõe a morte rígida do corpo voando para o infinito mundo do espírito, ultrapassando os limites da fantasia, da imaginação. Poder vivenciar fatos extraordinários num mundo de infinitas possibilidades. Muitos pajés brasileiros, como o Pajé Sapaim, por exemplo, sonham com o paciente e com a planta que será ministrada.
Estudos mostram que os xamãs da Ásia, América e África, tinham sonhos que os permitiam curar seus pacientes. Em muitas iniciações o xamã sonha com a morte (morte iniciática), visualiza seus órgãos arrancados do corpo, depois ele renascido sobe reino dos espíritos, aos céus, para conversar com outras almas, conhecer medicinas de outros xamãs mortos ou espíritos ancestrais, diagnosticar doenças.
Nos sonhos encontramos seres nunca antes vistos, terras e paisagens e mundos, no conhecido e desconhecido. Voltamos ao passados, encontramos almas queridas que conviveram conosco neste planeta. Voamos sem limites. Passamos em média um terço de nossas vidas sonhando. Separamos a vida em acordado e sonhando. Vivemos o sonho como se não fizesse parte de nossa realidade. Uma parte essencial de nossa vida. Vivemos um terço de nossa vida em realidades de múltiplas possibilidades, um mundo invisível da Terra.
Segundo Stanley Krippner (Sonhos Exóticos – Summus) : “Muitas tribos nativas, tais como os índios mapuches, acreditam que o ato de sonhar envolve uma jornada da alma para fora do corpo humano. Durante esse período de tempo, a alma poderia observar lugares e eventos distantes, engajando-se no que os parapsicólogos chamam de clarividência. O sonho clarividente é aquele no qual o relato do sonho corresponde precisamente a uma ocorrência remota ou local da qual o sonhador não teria maneiras ordinárias de tomar conhecimento.
Os índios Mapuches, que acreditavam que sonhos clarividentes envolvem viagens da alma durante o período noturno, trabalham com sonhos em três níveis. O primeiro é o nível intratextual em que as imagens dos sonhos são estudadas.
O segundo é o intertextual, em que os sonhos são interpretados de acordo com o passado e os sonhos de outros a membros da família. O terceiro é o nível contextual, em que os sonhos são interpretados, tendo como base a situação social e emocional do indivíduo. Os dois últimos métodos permitem a participação direta de membros das famílias no processo de interpretação dos sonhos. Eles podem ainda relacionar seus sonhos com os sonhos do sonhador.Os sonhos considerados pelos ocidentais de “anômalos” (clarividência, telepatia, precognição), são considerados perfeitamente normais para os mapuches.”
VISÃO XAMÂNICA DOS SONHOS
Os xamãs por serem mestres em atravessar os mundos profundo (inconsciente coletivo), médio, (realidade cotidiana) e superior (sagrado) são os sonhadores por excelência. Ao ajudarem os outros a interpretarem seus sonhos, podem auxiliá-los a triunfar sobre as limitações humanas. Isso pode significar a diferença entre a cura e a doença. A forma deles tratarem a cura é diferente, pois sempre consideram a doença como uma iniciação ou uma cura profunda. Sua grande genialidade é identificar a unidade subjacente à divindade, o fio de ligação de todas as vidas e o poder de unificá-las numa única e grande história. Você não está só no seu sofrimento, pois suas dores fazem parte das dores da humanidade.
O xamã é o sonhador também porque é um visionário, ele vê muito além da realidade externa, acredita nos seus sonhos e que tudo pode mudar, é autêntico e tem um compromisso com a verdade que precisa ser vivida em todos os seus atos. A alma humana é o seu território, o qual ele percorre com inúmeros veículos: a viagem xamanica, que serve como diagnósticos, diversas técnicas de cura tais como, recuperação do poder animal, troca do papel com a doença e a medicina xamanica mais tradicional encontrada em todas as culturas, entre outras. Em todas essas técnicas está o grande poder do xamã, sua intuição aguçada e a facilidade em transitar no universo do sonho – o que temos quando dormimos.
Tal como a psicologia analítica de Jung postula, também para o xamã, a realidade é a interna (como percebemos e sentimos o mundo), o mundo dos sonhos, no acesso direto ao inconsciente coletivo. Para tal, se você não estiver passando por crises agudas, não precisa de um condutor, pois o sonho é o seu terapeuta internalizado.
Quando sonhamos, conflitos internos estão querendo nossa atenção e mesmo que não saibamos seu significado profundo a psique (mente) já fez sua cura ‘falando’ com o seu consciente. Vejam a facilidade como o ser humano comum consegue falar sobre seus sonhos e dar-lhes um significado, por mais ingênuo que este significado seja é curativo.
O xamã exerce essa função com muita frequência e para alguns decifrar sonhos é seu grande talento e habilidade pessoal.
Taize Santos