Depois de ler o livro ANO’ ANO de Kristin Zambucka, senti que havia plantado em mim uma nova semente e percebi que estava vivenciando um novo IKE.
Comecei a imaginar como é viver de acordo com a Huna. Senti naquele momento, que a vida é plena de alegria; passei a sentir e ver de modo diferente; o pensamento tornou-se mais claro e a percepção em relação às pessoas deixou de ser pessimista e os julgamentos tornaram-se suaves. Imaginei então, como seria me colocar no lugar de cada pessoa. Seria olhar com os olhos do outro e com um outro Ike? Foi como se meu sonho básico de vida estivesse sofrendo modificações, o que trazia mais alegria ainda. Seria enxergar o outro e todo ser humano como um ser único? Acabou a dúvida sobre a natureza individual e senti que todos nós temos um guardião (Aumakua) dentro de nós. Então perguntei: Quem sou eu (uhane) para julgar o que é certo ou errado, o que é bom ou ruim, o que é melhor ou pior, por que ser um juiz? Quando julgo estou projetando no outro, as memórias contidas no uhinipili, minhas crenças, minhas experiências, aquilo que eu trouxe para o meu sonho básico de vida.
Quem sou eu? Se não tenho resposta para essa pergunta, como acreditar que posso saber quem é o outro e o que é melhor para ele? No momento que faço essa reflexão, percebo que como eu, cada um traz dentro de si em potencial, as respostas e que nosso papel nessa vida é procurar encontra-las.
À medida que desenvolvo em mim a tolerância, que suavizo os julgamentos, começo a introjetar novos valores modificando meu ike (plantei uma nova semente). Estou dando assim, um passo no novo caminho, eliminando das memórias as crenças limitadoras. Olhando-me e voltando para meu interior, poderei modificar-me, e então, olhar para o outro procurando sentí-lo como ele é, sem criar expectativas de que possam ser “como eu gostaria que fosse”, sem achar que o melhor para ele seria ö que eu penso”.
Somos responsáveis por nosso caminho nesta vida, e só posso responder e me responsabilizar pelo meu. Sinto então que olhar para o outro não é deixar de perceber o que tem de ruim, mas é também enxergar o colorido e a beleza que ele possui; é perceber a vida na natureza e ao meu redor; isso me faz viver com alegria e com disposição para as ações que provocam mudanças interiores.
Enxergar o “copo meio cheio e não meio vazio”, muda minha perspectiva e me torna mais flexível, o que provoca mudanças no sonho básico de vida, estando em primeiro lugar conhecer o próprio Ike, admitindo-se que cada um tem o seu. Essa é a liberdade que trazemos em potencial, registrada através das gerações, nas marcas mnêmicas (memória genética). Para que possamos sentir o real significado de “não ferir o outro”, precisamos aprender a conviver com outros ikes, respeitando seus conteúdos.
Tenho pensado muito sobre as diferenças existentes nas pessoas que me procuram no dia a dia do consultório; tenho percebido e estado mais atenta para entender e aceitar cada um como um indivíduo e sua dinâmica. Tenho acompanhado algumas pessoas, vendo suas necessidades de mudanças e como as desarmonias estão presentes na maneira de pensar (a vida é aquilo que você pensa que é).
Hoje de manhã, voltando ao consultório depois de um feriado prolongado, olhei para as plantas que tenho em meu jardim e as vi murchas e sem vivacidade. Depois de regada a terra, voltaram no decorrer da manhã a ser o que eram. Plantar as sementes cuidando da terra diariamente para que cresçam e se tornem plantas, é como dar um novo colorido aos nossos pensamentos, numa diferente percepção e escolha. É permitir que a energia circule, é alimentar o unihipili (coração) com mana (água em movimento), é perceber que tudo é possível, permitindo modificações em nós. A ação de regar a terra ressecada pelo calor foi o que propiciou às plantas meios de continuarem seus ciclos de vida.
As nossas ações provocam as mudanças que queremos em nossa vida. Quando a ação é adequada à situação, a energia flui naturalmente. Ao olhar e depois agir com as plantas, senti que qualquer mudança na vida depende de uma ação com um objetivo definido.
Através da ação, o fruto da experiência nos conduz à harmonia entre o unihipili e o uhane. O fluir da vida se faz em mim, desde que eu perceba e me permita sentir que ela seja vivida como “um copo meio cheio”.
Maria Aparecida Scatena
Grupo Pirâmide de Santos